Quantas páginas ainda vamos escrever?
Quantas páginas, não queremos, mas vamos ter de escrever?
E quantas estamos ávidos por construir?
Como você se sente sem saber quanto tempo te resta? O que você faria, se soubesse?
Sinto-me irrequieta, por minha ignorância.
Camuflo essa inquietude com sorrisos e coisas que julgo me deixarem satisfeita por estar aqui. Para que se lamentar das coisas que você não sabe? Elas não estão em sua zona de influência, então por que se torturar todos os dias, cogitando o que mais a vida te reserva e se será bom ou ruim.
Ao mesmo tempo em que sinto a inquietude, sinto uma espécie de leveza por ser capaz de perceber as coisas que iluminam nossos arredores. Sinto-me cheia de algo que não sei explicar exatamente o que é, mas sei que é bom e que me faz bem.
Não sei se meus olhos estão vendados, mas, caso estejam, gostaria de permanecer mais tempo presa a essa fantasia simpática, que me sussurra todos os dias a maravilha de estar viva e apta a fazer algo por mim mesma e pelos que amo. Essa venda entorpece meu espírito e me coloca mansa diante de tudo de ruim que os demais insistem em me apresentar, sobre a vida.
Não sinto que quero chorar. Ou melhor, sinto, sim. Mas quero chorar porque parece surreal estar aqui. Parece surreal estar viva e ter ciência de todos os milagres que precisam acontecer diariamente para que isso ocorra. Sinto-me bem estando aqui. E sinto que posso continuar, porque, sabe, não parece tão difícil levar tudo numa boa.
Eu vejo otimismo e, se possível, gostaria de me alimentar dele sempre que me for permitido. Quero ouvir o canto dos pássaros, porque seu som me embala e me encanta. E quando sinto que me perco na melodia absurdamente penetrante deles, penso que essa é a vida que quero levar. Quero agradecer e agradeço por ter ouvidos para que eles me permitam sentir a melhor coisa do mundo: estar vivo e saber a grandiosidade desse fato.
E assim me sinto tão absurdamente mínima.
E, assim, sinto que é possível lavar a alma e o coração.
Dessa forma.
Assim que você estiver preparado.
E a inquietude, ela se acaba e minha mente consegue relaxar por completo, para que meu sorriso se torne ainda mais sincero.
E continuarei assim.
E você também.
Assim que estiver preparado.
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P.s.: escrevi isso ouvindo What A Wonderful World, por Tiago Iorc (tema de abertura da nova novela das 6, Sete Vidas).
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