Não estava à toa no mundo, mas precisava me encontrar, a fim de provar a mim mesma que ainda queria ter um sentido para cada suspirar pesado e diário. O tempo passava muito depressa e eu mal podia perceber minha vida. Estava se esvaindo de minhas mãos e meus olhos, totalmente cegos das lamúrias do dia-a-dia, já não suportavam mais se abrir. Não queria mais ver o possível e o real.
A vida se despedia de mim, mas eu não podia corresponder, porque me sentia perdida e infeliz. Onde estavam minhas rebeldias sobre não permitir que a rotina se apoderasse da minha vida? Onde estava aquela juventude violenta pela liberdade de um novo amanhã, de um novo agora? Eu nem podia mais sentir a sede de um novo despertar. Estava só no íntimo pútrido de cada indivíduo. Já não era capaz de perceber a luz que emana de cada um e duvidava se ela existia.
Por que às vezes nos rendemos? Por que por vezes sobrevivemos? Estamos mesmo vivos, ou apenas interpretando o papel que nos foi dado? Não estamos cansados de atuar apenas para satisfazer as expectativas dos demais? Você é feliz nesse teatro infame?
Quisera o penhasco estar distante de mim, pois já não sinto afã por nada, além da queda que ele me proporciona. Ele será culpado pela minha desistência e por meus erros depressivos. Já não me envergonho de recorrer apenas a ele, como solução dos problemas que encontrei e que não me sinto preparada para resolver. Os dramas da rotina, todos eles me são tão titânicos agora, que já não me sinto mais dona do meu próprio nariz. Tudo que possuo é um corpo cansado, parado por algumas tristezas e movido pela vontade de que, um dia, tudo acabe e ele simplesmente desfaleça, velado pelas dores dos dias em que não fui capaz de me desfazer dos sentimentos ruins que me trouxeram ao nada.
As velas tremulam e zombam de mim, dispostas num corredor magnífico, cujo significado não consigo mais interpretar. Sou inútil para mim e também para os outros. Longe do seio quente e agradável de significados valorosos da vida, não sou ninguém. Não sou ninguém.
E, agora, o penhasco e as velas zombam de mim. Por favor, deixe-me, porque se tornou tarde demais para um último suspiro, uma última tentativa. Deixe-me porque é mais fácil. Deixe-me porque os únicos que se importam comigo são o penhasco e as velas. Deixe-me, porque só eles podem zombar de mim.
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